O projeto de pesquisa, em seu primeiro ciclo, busca analisar as dinâmicas históricas de automação do trabalho, afetadas por processos evolutivos e disruptivos na tecnologia global, a partir dos sentidos usados no binômio “automação” e “trabalho”, com especial destaque ao ambiente de labor jurídico.

Na primeira etapa (ou ciclo), a questão a ser respondida é: como se deu a evolução conceitual da automação em virtude da criação de novas tecnologias de retirada do elemento humano dos campos de trabalho? Para tanto pretende-se contar com a pesquisa bibliográfica e os métodos histórico-comparado, com utilização do pressuposto da sociologia do conhecimento para localizar as formas de manifestação técnica da automação (especialmente os diversos usos da inteligência artificial) e a construção de imagens sociais que instauram novas práticas nos ambientes de trabalho. O eixo, em fase inicial, buscará criar um índice conceitual comum, pautado no marco teórico-metodológico da histórica dos conceitos, para, com isso, analisar as dinâmicas de desigualdade do trabalho em um país periférico, como o Brasil, cujo influxo de processos de automação não tem regularidade e planejamento macroeconômico.

 

MARCO TEÓRICO E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Toma-se como marco teórico as ferramentas da história dos conceitos de Reinhart Koselleck, para observar não apenas os limites semânticos do conceito de automação (em sua dimensão sincrônica), como o seu desenvolvimento diacrônico ao longo da história. A metodologia com base neste marco teórico, que conta também com o apoio das obras de Quentin Skinner, John Pocock e Hans Ulrich Gumbrecht, também permite avaliar as limitações dos pontos de vista que influenciaram os sentidos de automação ao longo da história, influenciando, às vezes como prenúncio, às vezes como mito, o fenômeno da tecnologia atual.

Esse enfoque histórico vem complementado pelo pressuposto teórico da sociologia do conhecimento de Peter Berger e Thomas Luckmann, pelo qual se percebe a construção não apenas de um conhecimento científico, ordenado, sobre a automação e a tecnologia, mas um conhecimento popular, histórico, relativo às mentalidades – nesse sentido, como em outros trabalhos da liderança, o campo da história dos conceitos vai se aproximando do campo da história das ideias.

 

DISCUSSÃO (OBJETIVOS E PROBLEMATIZAÇÕES )

O tema da automação envolve uma dinâmica dúplice em sua investigação: é que ao tempo em que automatizar não é um fenômeno apenas do séc. XXI, nem algo relativo, do ponto de vista contemporâneo, às tecnologias disruptivas associadas às maravilhas das ciências duras de ponta e, também em ramos conexos como medicina, agricultura, etc., ele se apresenta com as características próprias de uma sociedade hipertecnológica, com uma virada de percepção se comparado à sua forma anterior, no âmbito da Idade Moderna (ferramentas e automação fabril, segunda D.I.T). O mesmo marcado histórico pode ser estabelecido quanto ao conceito de trabalho que, sofrendo a influência da mudança da estrutura da sociedade, passa a ganhar novos contornos tanto quanto aos processos de sofistificaçao e criação, como de subalternização e precarização.

A pesquisa irá se desenvolver em uma divisão por ciclos, de modo a garantir o devido rigor acadêmico e produtos inovadores. O primeiro ciclo, que compreende os trabalhos em 2019, envolve a aplicação da metodologia da história dos conceitos para restringir e confirmar, analiticamente, as formas de falar sobre o trabalho e sobre a automação, erigindo um patamar conceitual comum, em uma área de pesquisa interdisciplinar que ainda vem ganhando contornos no estado – verifique-se, por exemplo, a plataforma de teses e dissertações das grandes universidades públicas de Pernambuco, e não há corpo de trabalho sobre o tema. Trata-se, portanto, de fundamentar e entregar uma revisão de bibliografia sobre o tema (automação x trabalho), com a devida atualização, de modo a embasar qualquer trabalho regional sobre a matéria.

O segundo ciclo, programado para o final do primeiro trimestre de 2020, envolve a saída em campo da atividade de pesquisa, no intuito de por em ação os conceitos antes delimitados e investigar o funcionamento de determinadas classes de trabalhadores e empregos específicos, conforme a Classificação Brasileira das Ocupações, documentação oficial emitida pelo, então, Ministério do Trabalho. O trabalho, mantendo a interdisciplinaridade, passará de uma matriz historiográfica a uma dimensão sociológica para analisar profissionais de áreas tidas como prestigiadas e bem remuneradas e profissionais de áreas tidas como subalternas e mal remuneradas. O ciclo contará com a seleção de marcadores de habilidades e definição de potenciais de automação, conforme índices internacionais, de modo a apresentar um diagnóstico da realidade local e cenários de futuros possíveis, ademais demarcará não apenas os ramos, mas os corpos de habilidades passíveis de automação, dentro do estado de pernambuco, razão pela qual cuidará de uma observação também sobre as microdinâmicas de trabalho e os efeitos da automação nesses âmbitos.

Institucional

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